sexta-feira, setembro 28, 2007

Entardecer

Por causa do entardecer pensamos no tempo que se gasta sem fim nem começo. No fim de cada dia, estamos quase sempre demasiado cansados para avaliar como gastamos as horas de luz que nos foram entregues. Procuramos olhar o entardecer como o por do sol, algo que ocorre sempre, dura alguns escassos minutos e que por vezes é deslumbrante ou apenas o sinal do fim de um dia que ansiávamos acabar.
Escolhi esta fotografia propositadamente porque está ligeiramente desfocada. O entardecer tem múltiplas nuances e variantes, pode ser literal, romântico ou até mesmo dramático. Representa a beleza natural no seu esplendor e insuperável variedade. Assim, olhando a fotografia desfocada, alguns tentarão imagina-la em foco e como seria deliciosa para o olhar se desvendasse todos os seus detalhes, outros fitarão com desdém do fotógrafo que poderia fazer melhor, por fim há aquele pequeno grupo de pessoas que imaginarão a fotografia mais desfocada e impressionista, deixando apenas pistas das formas e dando maior realce à variedade de tons que nela se escondem.
Eu olho-a como a representação do fim de mais um ciclo, o fim de uma vida e o antecipar do nascimento que se anseia. Tento olhar a minha vida assim, como se fosse um nascer e um por do sol. No inicio e no fim do meu percurso haverá sempre beleza e harmonia, preciso mesmo é de olhar pelas minhas "horas de luz" e não deixar que sejam menos que os extremos da minha existência.

Um bem haja aqueles que conseguem aproveitar ainda a sua "luz" mesmo quando se viram privados dela.

quarta-feira, setembro 26, 2007

Freak... parte 2... ou 3, já nem interessa!




Nem com o tempo as coisas mudam. Aquele velho ditado que dizia que "o tempo é cura para tudo" e o outro que afirmava "só o tempo dirá" sem esquecer o "é uma questão de tempo", fazem do tempo uma espécie de deus que todos nós adoramos e deixamos que nos molde. A sensação que habita os recantos da minha mente, é de total pasmo! Como posso eu deixar que estes e outros dizeres, fruto do saber popular, façam com que entre no ciclo? Que ciclo?! Parece mesmo que estou a olhar um aquário pelo lado de fora! Estou a ver tudo e os "peixes" andam na sua vida sem saber o quão extenso é o mundo que os rodeia. Se pegamos na história e olhamos bem para trás posso plagiar uma frase do cartoonista Quino "Evoluímos tanto, criamos tanto e como as intenções pouco mudaram!". O ciclo não é mais do que a tendência natural para nos sobrepormos e superarmos continuamente, para exagerarmos e criarmos sem freio, para menosprezarmos a nossa essência e car no egoísmo de mudar o mundo para nos servir melhor.

Era no futuro... digo-o no passado porque dele apenas restou uma memória digitalizada para hipotéticos Arqueólogos que não humanos... O dia começava com um despertador auditivo, configurado especificamente para cada pessoa, para um acordar mais eficiente. Uma leve picada completava o trabalho de nos acordar com o coktail que estimulava o córtex e os músculos. O quarto diminuto era rapidamente substituído pelo cubículo de limpeza a seco, a água era uma bebida para ricos de tão rara que se havia tornado. Saia pelo elevador expresso atrás de tantos outro que partiam para a sua função diária a velocidades alucinantes, por tubos transparentes que nos deixavam vislumbrar a amálgama de estruturas disformes e altamente avançadas que tínhamos criamos. Eu fui manipulado geneticamente para desempenhar um trabalho difícil e letal para qualquer outro humano, fazia manutenção dos núcleos de fissão nuclear e do sistema magnético que alimentava todo o movimento da cidade-estado...
Numa dada ocasião tinha perdido uma perna num acidente com uma comporta que teimara em selar a câmara de fissão 3B antes que conseguisse sair. Tive de me arrastar até à enfermaria na área descontaminada e lá reconstruiram o membro com CCA (crescimento celular acelerado). Fiquei de baixa por dois dias até a perna estar completa. Senti que não ter um corpo, ter sim uma máquina com peças substituíveis...
Andava outra vez a pensar em ter filhos, mas precisava de autorização e de sorte para que eles fossem aprovados e seleccionados para uma manipulação que lhes desse uma vida melhor que a minha.
Os 375 milhões de habitantes na cidade em que eu vivia, faziam desta um local muito parecido com os reactores que operava. O equilíbrio era precário e apenas ajustado milimetricamente para compensar alterações. Os reactores e todo o equipamento que alimentava a cidade estava sempre a ser levado ao limite com as necessidades crescentes da população apesar das normas limitativas da direcção geral.
Depois de um dia de trabalho, passava cerca de duas horas em banhos químicos de descontaminação, depois ficava ainda mais meia hora num campo magnético para reduzir a radiação a níveis que não fossem letais para outros que não fossem como eu. Chegava a "casa" e enfiava-me na cama, com simples comandos verbais ordenava o meu espaço, pedia o jantar que invariavelmente era CCS (Cambell's Complete Soup). A parede recolhia a mesa e o prato enquanto a música ambiente continua a fundir-se com os ruídos de servo-motores que fazem surgir a casa de banho da mesma parede.
Deitava-me e pedia que aparecessem no ecrã as imagens de animais e árvores que existiam noutros tempos. Nem imagino a que cheiravam as plantas e os animais, os sons tinham sido gravados e aumentavam as saudades daquilo que nunca tive.
Fechava os olhos enquanto ouvia o uivar duma criatura que se chamava lobo, imaginava-me a seu lado com o frio da noite a aguçar os meus sentidos. Adormecia e logo acordava para mais uma injecção de realidade.
A minha série precisava apenas de 4 horas por dia para descansar...

segunda-feira, setembro 24, 2007

Travelling without moving....

Tenho um mundo secreto.... Guardo-o bem escondido de toda a gente, é só meu! Mas, às vezes preciso que se saiba dele, preciso que as suas maravilhas encantem outros.
Estava a ver as fotografias tiradas nas férias e cruzei-me com esta, tão simples e pacífica, fez-me viajar. Fecho os olhos e navego pelo lago onde as raízes alimentam os juncos e abrigam os ninhos. Ouço a água somente quando remo por ela que de outra maneira não existiria como som. Ao longe vêem-se as casas e o bulício das pessoas e carros a correr pra parte nenhuma. Elevo-me com as garças que se assustam comigo, grãos de areia serpenteiam por entre ruas como se de formigas se tratassem. O ar, ensurdecedor, gela-me a cara e o corpo, quase dormentes. O horizonte cresce e curva-se, muda de cor e presenteia os seres alados com visões mágicas do mundo. O sol derrete-se nas águas do mar e precipito-me em seu encalço, embato nas ondas violentamente e sou acariciado pela espuma que se forma em meu redor. Primeiro o silêncio, depois silhuetas de ninfas que me espreitam na água baça e turbulenta. Paro um momento e embalo no rebentar das ondas na praia, cada vez mais distantes, cada vez mais escuro. Toco no fundo, cego, gelado e a sentir as vibrações de cetáceos que cantam melodias mais antigas que a humanidade.
Abro os olhos e vejo de novo a fotografia. Sorrio ao de leve a pensar o quanto as imagens me fazem viajar... para tão longe.

Fui sem ir e vi sem olhar, viajei às alturas do céu e às profundezas do oceano, bebi da minha imaginação e embriagado sorrio com prazer.

sexta-feira, setembro 21, 2007

Introspecção


Parei um momento. Acho que tenho de respirar fundo e aproveitar este raro momento de clareza. Estive a reler o post anterior (e mais uma vez encontrei um montão de erros) e fiquei surpreendido com a reacção que provocou, que foi perfeitamente oposta à que eu esperava. Afinal posso deixar sair aquilo que constantemente escondo por vergonha ou por já saber a reacção. Decidi por isso continuar a dar asas mesmo às mais absurdas das minhas ideias. E seguindo o exemplo anterior, faço das próximas linhas uma ausência real de objectividade e lógica. A introspecção como a vejo hoje...

Descalço, sentia cada pedra escaldante no leito do lago seco. A cada passo que dava estalavam as placas de terra ressequida e delas se formava um pó que lentamente se acumulava por todo o meu corpo. O Sol impiedoso rasgava camadas de pele rindo-se de não haver abrigo à sua tortura no horizonte. Parei de andar, pronto a desistir de tal demanda sem destino definido. Senti as pernas a fraquejar até cair de joelhos naquele vazio escaldante pintado de luz e castanhos. Mergulhei os dedos no solo árido numa procura desesperada por água sem me aperceber que estes se alongavam e adquiriam perfis lenhosos de raízes. Sentia-os a perfurar cada vez mais fundo, mais frio, mais húmido. Saciei a minha sede e vi-me preso naquele lugar desprovido de vida... Debati-me o mais que pude e apenas me apercebi de como o que restava do meu corpo ia lentamente transitando do estado de carne para o lenhoso. À minha volta começaram a surgir caules inúmeros e verdejantes como que a me darem as boas vindas à minha última morada. Pestanejei inúmeras vezes na esperança de tudo ser apenas fruto do Sol maldito que recosera o meu cérebro. Quando abri os olhos pela última vez, olhei para o horizonte e o nada continuava infinito, castanho e quente, apenas a vida surgia em meu redor numa dança vagarosa que brevemente me iria cobrir na totalidade. Hoje apercebo-me do nada que criei, como a vida está mesmo ao nosso redor e só a vemos quando ela se torna sufocante.

Tenho de me mover outra vez...

quarta-feira, setembro 19, 2007

Freak

Não posso mais debater os conceitos de normalidade, inteligência nem das maneiras como vislumbramos o mundo porque na verdade não o vemos. Hoje quero apenas falar daqueles que procuram o inexplicavel como uma forma de exercitar a sua imaginação e de afogar a enfadonha realidade do dia-a-dia. Não foi há muito tempo que o senhor meu patrão se referiu à minha pessoa como o "freak". Pelo que sei, este termo foi dado a um movimento cultural e musical nas décadas de 70 e 80, ora visto que eu apenas teria idade para brincar à bola (que nem o fazia muito bem!) ou ver desenhos animados, depreendi que sua excelência usava o termo duma forma mais literal. Ainda fiquei alguns momentos a digerir tal apreciação e a tentar coloca-la num contexto que fosse lógico ou que encaixasse de facto com o que eu acho de mim e depois desisti. Fica claro que padrões de comportamentos e a inserção dum sujeito num dado grupo é a melhor maneira de tranquilizar a ignorância de quem não nos conhece.
Como não costumo gostar de ter fama e não ter o proveito, vou aproveitar para "avacalhar a cena" e justificar o rótulo que me foi "colado", vai daí que as próximas linhas podem estar bem longe daquilo a que se chamaria um texto normal. Aos que não gostam deste princípio, peço desculpas pelo tempo perdido... não peço nada! Tava a brincar!

Nesta maravilhosa noite húmida e fria vislumbro a janela aberta dum prédio vizinho de onde escorrem milhares de litro de melaço amarelo ambar que cai silenciosamente até à rua onde espectantes, as pessoas deixam-se envolver na pegajosa matéria que os vai conservar assim para todo o sempre. As árvores que ardem ao longo dos passeios iluminam a macabra cena e dão um ambiente acolhedor aos que ainda agora se juntaram ao rebanho sacrificial.
Da janela que ladeia a cascata dourada um homem ri descontroladamente enquanto atira mulher e filhos para o lago que agora já escorre para os campos cultivados que se estendem por entre carvalhos andantes com centenas de anos de história materializada sob a forma de longos ramos.
Uma vontade quase irresistivel invade a minha mente e vou imediatamente buscar os óculos de mergulho para que veja bem assim que mergulhe na lenta onda que se dirige à minha varanda.
O silêncio é dourado e translúcido, aquece-nos apesar de gélido e nos impedir os movimentos.

O tempo pára e vejo-nos a todos dentro dum globo na mão de alguém maior que observa a cena a em silêncio...


Freakish.

segunda-feira, setembro 17, 2007

Para além dos sentidos


Enquanto tiver a capacidade de me questionar, posso dizer que afinal não sou aquele caso perdido que pensava ser. Já passaram alguns anos desde que o meu cepticismo foi posto à prova, que a minha lógica foi confrontada com mais uma questão sem resposta, ou como me tento convencer, com uma incrível coincidência. Neste fim-de-semana que passou "senti" algo, alguma coisa alterou o meu estado de espírito tão rapidamente que poderia ser diagnosticada bipolaridade. Sem a intervenção consciente, tomei atitudes e percorri passos inéditos de maneira a satisfazer um ritual nunca antes celebrado.
Perguntei-me o que se estaria a passar e por que raio estava tão afectado com uma manifestação física de arrepio e a sensação inexplicável de que algo não estava bem. Como de costume ignorei e passei à frente porque não tinha lógica, nem mesmo nenhum cabimento especular sobre uma abstracção. No fim do dia, taciturno, respeitei o cansaço do meu corpo e adormeci.
Na manhã do dia seguinte recebo uma mensagem que relata a coincidência e esmaga-me a razão. Milhões de sinapses explodem na minha cabeça numa procura desesperada pela explicação, sinto ferver por dentro e o corpo toma o lugar do cérebro que em mais nada pode ajudar. Não explico, não compreendo, sinto um calor na cara e os olhos vertem um coctail de frustração e tristeza.
Agora que "já passou", tenho tempo de analisar e dar-lhe de novo o rótulo de coincidência. Só que desta vez estou a pensar nas outras vezes e de como as coincidências são casos isolados, raros e duma aparente simplicidade que assombra o mais céptico dos cépticos. Não são exactos nem precisos, pecam pela falta de detalhe e orientação, mas abusam da emotividade e fazem sentir tudo aquilo que não pode ser dito em palavras.
Assoberbado por perguntas sem resposta, forçado a olhar o dia com lampejos do sobrenatural, esfrego os olhos para focar de novo no que realmente sei que existe. Conforto-me com o trabalho, penso nos outros e no que lhes faz o dia ficar mais ou menos colorido. Digo uma piada ou duas mas não consigo evitar o fechar da minha cara.

Fico furioso! Não consigo racionalizar nem explicar nem mesmo teorizar! As coisas são como são e pronto. Explicar é infrutífero, cansativo e desnecessário.


Foi só mais uma coincidência...

quinta-feira, setembro 13, 2007

Colour blind


A veia tem estado negra ultimamente, por isso decidi pingar este lugar com um bocadinho de cor a ver se animo as hostes (especialmente as minhas).
Como a expressão plástica nos pode elevar o espírito e quebrar os mais restritivos pensamentos que nos arrastam para baixo como se de uma grilheta se tratasse. Ver as cores, aproveitar o sabor e calor que nos transmitem sem no entanto lhes tocarmos, respirar a paisagem inspirada dum pintor qualquer, admirar os detalhes das mãos dos intervenientes na cena e o quão humanos nos parecem quando não passam de personagens de óleo ou acrílico....
Pode-se afirmar que o quadro poderá ser a janela com a paisagem de sonho ou o vislumbre da alma materializada de alguém. A escultura torna-se orgânica mesmo quando abstracta, fere os sentidos com a sua rudez e suplica-nos uma carícia nas texturas que a compõem. A fotografia será sem dúvida a única máquina do tempo que temos ao alcance de quase todos, perpetuam-se sorrisos e expressões, umas engraçadas, outras tristes, outras sem ninguém mas todas mostram como quem está por trás da camara vê o seu mundo e espreita o passado. A dança é a expressão física do som e das sensações que nos são transmitidas por uma música ou amálgama de sons que electrizam os músculos numa incontrolável vontade de seguir a melodia ou desmonta-la na arritmia do caos.
Da expressão plástica levamo-nos pelas ondas suaves dum blues ou soul que nos enternecem ou aquecem, dos arrepios dos violinos de Vivaldi às sérias ressonâncias dos violoncelos de Schubert, ao negrume cativante de Bach às epopeias de Verdi, todos eles são mestres na personificação dos sentimentos em música. O caótico mundo do techno que explora a nossa apetência mais animal pelos sons nas suas inúmeras variantes, a adrenalina que os músicos de rock e metal nos fazem sentir quando libertam as garras sobre a guitarra e como nos colam ao chão com as suas baladas inimitáveis.
Por vezes nem estes mundos são suficientes para nos afastar do facto de que por vezes, as cores são só cinzentos e a música será só um ruido ao qual nos habituamos e treinamos o ouvido para a esquecer.
Ultimamente não vejo as cores, nem me arrepio com a música. Parece-me que preciso de ser deslumbrado novamente por algo ou alguém. Queria ser miudo outra vez!!

Com a inspiração a preto e branco...

quarta-feira, setembro 12, 2007

Biomecanoide em fuga...


Hoje estou cansado... quase ao ponto de ficar transparente e me deixar desvanecer sem medo. Após uns ensurdecedores momentos na noite, sinto o desejo de ador,ecer em paz, sem mais acordar, sem mais ter de me elevar e pegar no estojo de primeiros socorros para remendar o que se estragou ontem.
Estou tão cansado que já nem sinto vontade de reclamar "alto" com o mundo e com a cegueira que nele impera. Não vou cair na repetição do que acho que deveriamos ouvir, ver sentir... O ser humano tem de ser capaz de o fazer autonomamente, sem ajudas e sem alguém para o lembrar.
A nesga de luz que por vezes perfura a telha que nos reduz às sombras é uma bênção. Conseguimos por um instante vislumbrar como tudo poderia ser se... como se tivéssemos agido de maneira diferente nada estaria como... temos de olhar em frente e não esquecer as lições duramente aprendidas para que esta amostra de luz não mais nos abandone.
Os "ses" da nossa vida arrastam-nos constantemente para um estado quase catatónico perante a vida. Perdemos segundos preciosos a lamentar o que deveriamos ter feito ou não ter feito, esses segundos multiplicam-se em horas e em dias que sorrateiramente sugam o tempo que ainda nos resta. E depois se o emprego que temos não é o que queremos? E que tem estarmos de novo zangados com a nossa cara metade? E o que tem demais estar muito transito? Não param para pensar que o emprego ranhoso que temos permite-nos existir na sociedade e alimentar o carro que esgota o dinheiro pelo escape no meio do caos egoista das estradas em hora de ponta, que ainda nos faz chegar de novo atrasados para o jantar de familia agravado pela neura que acumulamos do dia-a-dia. Não param para disfrutar os escassos momentos que temos com aqueles que amamos porque ainda estamos absortos pela merda dos problemas que em nada contribuem para nós e para ninguém. Não respiram fundo, cheiram o ar da casa com uma amálgama de fragrâncias da pele dum filho, do cabelo da mulher do sofá manchado daquela vez que nos divertimos a ver o nosso rebento a comer o seu primeiro gelado. Não olhamos as paredes do corredor, testemunhas arranhadas das primeiras peças de mobilia que entraram por estas portas, por nossa escolha.
Não queria cair na repetição e caí...





Estou mesmo muito cansado e vou deixar que o sono apague de vez aquilo que despejo aqui e ali nas formas mais completas possiveis de exorcisar o negro.
O negro é a escuridão... medonha! Confortante. Lá estão todos os sonhos e medos que fazem de nós os maravilhosos seres pensantes com alma que ainda acreditam que as coisas vão melhorar.
Na escuridão encontramos a surdez dos factos e ansiamos pela melodia dissonante dos sonhos.
Será assim tão mau encontar o fim?

segunda-feira, setembro 10, 2007

Visualizar....


Houve alguém que escreveu que "o essencial é invisível aos olhos", eu concordo. Parece-me que a cada dia que usamos os olhos para nos guiar e tomar decisões falhamos no olhar verdadeiro das coisas. A sociedade inunda os sentidos até que estamos de tal maneira assoberbados que ficamos cegos ao que realmente conta. Os olhos são o espelho da alma (também alguém escreveu), não são referidos como a fonte da visão nem como são mais ou menos sensíveis à luz por causa da sua cor, nem como constituem uma forma única que nos destingue de todos os animais na superfície da Terra.
Ver é muito importante, permite-nos evitar obstáculos e até vermos cores e formas que nos fascinam, permite também contemplar uma paisagem e aquecer no calor dum sorriso. Mas como gosto de me contradizer peço-vos para fazerem um exercício... não estou a falar de bicicletas de manutenção, caminhadas e afins, mas um exercício mental que vos pode transportar para uma visão cega de luz, cor e formas. Se nunca tivessemos tido visão, como poderiamos falar de formas e cores? Como será que imaginaríamos os objectos que "veríamos" com as mãos? Conseguem se despegar dos conceitos adquiridos por anos e anos de visão e visualizar o mundo pelos sentidos que vos restam? Que cor teria o calor? Que nome teria a cor do calor? Que coisas veríamos que não tinham de respeitar as covenções do homem e do mundo que as reprime? Seríamos capazes de conceber os horrores que criamos se não pudéssemos ver?
Não peço que se fuja da realidade nem que nos refugiemos dos problemas, mas peço que nos permitamos expandir a visão que teremos das coisas sem que usemos os olhos. Visualizem tudo o que vos rodeia sendo levados e vendados até a um lugar onde nunca estiveram... vão ver que serão surpreendidos quando levantarem a venda.


O amor teria forma?
O cheiro teria cor?
A luz seria líquida?
A árvore seria infinita?
O ar seria de algodão doce?
O sabor seria uma criatura?

Abstracto me despeço.

Insomniac


Isto hoje ta demais! Não consigo dormir e por isso decidi escrever mais um pouco.
O post anterior ja mereceu comentário indicativo da bela confusão que fiz ao escreve-lo, mas não mudo uma linha! Por vezes palavras podem ser só palavras e podem significar nada para muitos e significar muito para poucos. A coisa adensa-se e anteveem-se tempos complicados para esta ja de si confusa mente.
Vou ter de começar por pedir desculpa pela minha subjectividade no trato de certos assuntos hoje, parece-me que a mensagem é apenas dirigida ao cromo que a escreveu e certamente o único que a entende. Sendo assim não podia deixar de escrever um outro bloquinho de "pérolas" recheadas de nada para vos oferecer.
A mente é de facto um lugar maravilhoso para se estar. Não existem limites para o que podemos fazer ou inventar, a única censura possível é a nossa e os tabus não fazem sentido. Perco momentos infinitos a idealizar paisagens, teoremas, postulados, cores, formas, formas de vida, vida sem forma... Tudo isto surge já involuntariamente e com maior frequência a cada dia que passa. A sucessão de imagens, ideias e temas surgem em catadupa e sufocam qualquer tentativa de por ordem nesta "casa de loucos"! Quero deixar sair estas formas de expressão mas o tempo não chega. Para quando a invenção duma máquina de gravação de sonhos?
Já me foi dito várias vezes que o que penso, "estudo" ou até digo em voz alta é dum total desinteresse por parte de qualquer pessoa "normal", que não faz sentido ou que não há paciência para me ouvir. Algures no meu pseudo-blog, já me referi ao conceito de normalidade e da forma como é encarado, aqui renovo a minha indignação ao ser alvo de comentários menos próprios. Ora bolas! Se de facto sou louco, se de facto o que digo não faz sentido, se de facto sou chato demais para aturar, então eu sou o único que ainda não se apercebeu!!! Deixem-me com a minha loucura, com a expressividade pesada e destorcida de alguns dos meus "textos", leiam e odeiem, leiam e gostem, o importante é que exorciso o que por cá vai.
Duma forma geral, as pessoas de quem se diz escrever bem, são de facto personagens algo isolados na expressão da sua criatividade, o que faz do seu trabalho um testemunho único e limitado pela lingua, da fonte transbordante da sua mente. Eu não quero me comparar aos escritores e pintores que de facto amam aquilo que fazem e empenham-se na conquista de mais um estilo, fase ou história que lhes assombra o espirito. Quero apenas perguntar quantos de vocês foram encarados numa conversa (mesmo que informal) com a total imcompreensão dos receptores da vossa mensagem? Quantas vezes vos faltou palavras e acabaram por se remeter ao silêncio por não haver forma verbal de transmitir o que querem? Por quantos lugares passaram e ouviram ao longe a conversa de outros tentando encontrar no meio daquela banalidade toda uma chama que vos aquecesse o espirito na sua curiosidade ou inteligência? E quantas vezes se afastaram discretamente dum lugar ou grupo de pessoas porque são sempre alienados pelo teor e contexto? Já não se trata dum problema de adolescência e falta de capacidade de encaixe social, trata-se da insatisfação que se sente ao não conseguirmos nos exprimir como queremos ou não conseguirmos nos fazer entender. Se calhar é tudo muito simples e eu é que sou limitado e não consigo ir para além da postura de rebelde conformado que de tudo desdiz e reclama no papel, porque na vida real as coisas não são bem assim...

É um facto que hoje não estou lá muito bem. A vida tem a incrivel capacidade de nos lembrar o quão pequenos somos e que, apesar de tudo, não vamos ser maiores. Esta sensação é esmagadora de corpo e espírito e peço perdão pela negatividade.

domingo, setembro 09, 2007

A surdez do Pregador...

As férias têm destas coisas... ausentamo-nos por longos periodos sem dar satisfações a ninguém... e agora estou à espera de milagres!!!
Venho me resguardar neste canto de lamentações e constestação predominantes mas hoje num acto de contrição. Durante vários anos e várias conversas fui sempre o bom ouvinte e por vezes o melhor conselheiro (nada de modéstias aqui porque afinal foi o que me disseram!!), e fui sempre apologista da simplicidade, frontalidade (atenção, não confundir com falta de respeito!) e o estar atento aqueles que amamos e que significam algo para nós (poooois, faz o que eu digo e não faças o que eu faço não é?). Não deixa de ser bastante curioso o quanto pregamos valores e bons pensamentos durante a nossa vida e somos completamente surdos aos mesmos. "nem penses que já não há solução!" - disse a uns (umas) - "Tens de telefonar à tua mulher, mas antes de dizer para atrasar o jantar porque trabalhas até mais tarde, pergunta como ela está. Vais ver que ela gosta!" - doutrinei a outros - "A pior merda que podes fazer é achar que tens sempre razão!" - vociferei aos mais casmurros(as). Fui pregador da "boa palavra" por várias vezes, inspirei confiança em muitos (as) e fui muitas vezes portador duma mensagem de calma e racionalização dos problemas. Lidei com o melhor e com o pior que o ser humano tem para dar e mostrar, afinei os sentidos para não deixar passar as subtilezas e isolei o coração para que não se ferisse mais com o que ouvia. Tornei-me prático, racional e acima de tudo dormente... como uma máquina programada para dar a resposta perante um determinado pedido, deixei de ser humano e o acto espontaneo passou a ser uma história do passado. Estou dormente, as coisas não têm as cores que tinham, não me doi a dor dos outros nem me permito mudar, tal é o medo de falhar e sofrer...
Digo tudo isto e não é por acaso, aprendi mais sobre mim e o que se pasa na minha vida nestes últimos 7 dias do que durante uma vida inteira. E não estou a exagerar! O pregador tornou-se o incomodado tipo que atende uma ceita qualquer à porta num domingo de manhã com ar meio ensonado. Não queria ser acordado a ouvir o que vai mal no mundo, nem o que de bom há no "céu", nem sequer me dei ao trabalho de ouvir para ao menos tirar algo de positivo da mensagem. O pregador é surdo!!! Ouço palavras que derramam pela cara abaixo de alguém que sofre da minha surdez e vejo o quão adormecido estive este tempo. O pregador é cego!!! Sinto que domino um só mundo que nem sequer é o meu, manipulo e esfrego as mãos ao adicionar mais uma "cabeça" na minha sala macabra de troféus, incho como um porco sem saber que o fim que terei será em tudo semelhante ao do suíno. O pregador é hipócrita!!
Este pregador foi "pregado", mas desta vez na dura realidade e na ilusão que criou que de tão "bela" e "perfeita" o iludiu a si mesmo. O coração já quase totalmente empedrenido do pregador pode ainda adquirir a consistência certa para pelo menos salvar o coração que feriu repetidamente, para se lembrar que o amor existe e que dele surge um calor que desmonta qualquer ilusão e faz da realidade a verdadeira beleza e perfeição que se precisa.

A ti que feri... desculpa.