segunda-feira, julho 10, 2017

Sem paz


E a noite finalmente vem... com a promessa de paz e da fadiga que nos leva ao negrume do sono. Mas como levar para o breu a paz se nos sobrecarrega a mente um fardo que afinal não é só um fardo. Cresceu por entre as brechas que permitimos abrir ao longo dos anos e cresceu... silenciosamente abriu mais brechas ainda e permitiu-se ocupar muito maior lugar do que dava a perceber.
Enraizou-se por entre as vértebras e tomou como raiz cada filamento do ser. Floresceu por entre chagas que teimaram não mais fechar, mantiveram abertas e vivas as feridas que de outra maneira desapareceriam numa amálgama de tecido cicatrizado.
Após todo este tempo os olhos se me abrem e deixam ver até que ponto deixei que a criatura daninha tomasse o espaço antes luminoso. Os seus ramos se retorcem por entre mim e apertam-se contra os órgãos vitais para que pensemos impossível a sua remoção.
Hoje tentei romper com algumas dessas heras constritoras... não sei lidar com o espaço que deixaram... com o derrame incessante dos vincos onde antes apertavam os seus caules negros.
O libertar de um membro, o urro que liberta-nos destas algemas assusta-nos... assusta quem nos rodeia... deixa-nos sós.
A besta deveria estar trancada numa caixa à prova de som e sem janelas. Não feriria quem a rodeia, não causaria temor a quem ama, cuidaria depois de si e dos que a rodeiam.
No inebriar da vil bebida filtra cada gota de fel que lhe escorreu pelos lábios. Soma cansaço e derrota e de novo surge a vontade de desaparecer no negrume... no breu.
Sem luz nem som... a besta cai.