quarta-feira, dezembro 12, 2007

Lurking....


A espreitar da escuridão, a criatura outrora semente do mal ergue-se e reclama a minha atenção. Cobardemente invade os meus pensamentos e faz-me divagar sobre o sofrimento que posso causar a quem me consigo aproximar mais. Fantasio baladas negras de gritos enquanto desfaço em dor o olhar surpreendido de quem outrora confiara em mim. Sinto o estalar dos teus ossos debaixo do meu punho cerrado e deixo-te sem fôlego. A cada inspiração a dor aumenta e eu aperto mais para que saibas que não foi sem querer...
Sabes bem o que queres de mim. Alimentas o meu apetite de negrume e afias as garras a cada pulsar nervoso que manifesto ao imaginar o que crias para mim. Saboreio cada sensação, cada reflexo muscular que controlo, cada amargo que a doce me sabe na boca. Sabes que me enfeitiças e tenho de te contar para o mundo senão ao dormir me acompanhas e ao acordar não me deixaste ainda.
Sinto um malogrado prazer em imaginar atrocidades que fluem livres de censura quando menos espero. Cada palavra ou frase que se formam e se agrupam neste "nocturno" são notas duma obra irrepetível e insuportável por outros. Receio o que sucede quando sabem o disforme que me habita o pensamento.

Estava com saudades tuas monstro... bem vindo.

D.M.

segunda-feira, dezembro 03, 2007

Renascido...


Sinto-me como se duma cobra me tratasse. Algo no meu interior excedeu o confinado espaço que sempre lhe reservei e tenho de perder a pele para dar lugar a outra mais flexível. Dei-me o direito de deixar de me proteger do amor que me rodeia, de sentir intensamente cada beijo, carinho, cada olhar meigo ou mais intenso, vibro a cada onda de choque que sai dos teus lábios e do teu olhar.
Vejo as minhas entranhas ruir de tão podres que estavam os seus alicerces. No entulho predominam as camadas de cimento e metal que desajeitadamente, mas de forma sempre eficaz, acrescentei à armadura disforme que me impedia de sorrir e amar com vontade. O pó ainda não assentou totalmente e fico ofegante ao vislumbrar este espaço tão aberto e exposto que é agora o meu peito. Olho para os escombros e já imagino o que posso construir ali. É lindo amar.
Porque passei anos e anos sem me deixar levar neste rodopio de emoções fortes, de sensibilidades quase metafísicas, não sei dizer. O mundo encheu-se de cor, de intensos vermelhos e laranjas e também dos cinzentos, azuis e demais cores frias. Desta mescla de tons e cores primárias surge agora uma percepção mais clara e intensa das coisas.
Estar assim tem tanto de bom como de doloroso, mas penso que a dor é boa conselheira e nos previne de nos magoarmos demais ou voltar a repetir erros passados.

Se não aceitarmos a dor como uma parte integrante do amor, nunca o viveremos completamente, ficamos incompletos.
D.M.