quarta-feira, setembro 26, 2007

Freak... parte 2... ou 3, já nem interessa!




Nem com o tempo as coisas mudam. Aquele velho ditado que dizia que "o tempo é cura para tudo" e o outro que afirmava "só o tempo dirá" sem esquecer o "é uma questão de tempo", fazem do tempo uma espécie de deus que todos nós adoramos e deixamos que nos molde. A sensação que habita os recantos da minha mente, é de total pasmo! Como posso eu deixar que estes e outros dizeres, fruto do saber popular, façam com que entre no ciclo? Que ciclo?! Parece mesmo que estou a olhar um aquário pelo lado de fora! Estou a ver tudo e os "peixes" andam na sua vida sem saber o quão extenso é o mundo que os rodeia. Se pegamos na história e olhamos bem para trás posso plagiar uma frase do cartoonista Quino "Evoluímos tanto, criamos tanto e como as intenções pouco mudaram!". O ciclo não é mais do que a tendência natural para nos sobrepormos e superarmos continuamente, para exagerarmos e criarmos sem freio, para menosprezarmos a nossa essência e car no egoísmo de mudar o mundo para nos servir melhor.

Era no futuro... digo-o no passado porque dele apenas restou uma memória digitalizada para hipotéticos Arqueólogos que não humanos... O dia começava com um despertador auditivo, configurado especificamente para cada pessoa, para um acordar mais eficiente. Uma leve picada completava o trabalho de nos acordar com o coktail que estimulava o córtex e os músculos. O quarto diminuto era rapidamente substituído pelo cubículo de limpeza a seco, a água era uma bebida para ricos de tão rara que se havia tornado. Saia pelo elevador expresso atrás de tantos outro que partiam para a sua função diária a velocidades alucinantes, por tubos transparentes que nos deixavam vislumbrar a amálgama de estruturas disformes e altamente avançadas que tínhamos criamos. Eu fui manipulado geneticamente para desempenhar um trabalho difícil e letal para qualquer outro humano, fazia manutenção dos núcleos de fissão nuclear e do sistema magnético que alimentava todo o movimento da cidade-estado...
Numa dada ocasião tinha perdido uma perna num acidente com uma comporta que teimara em selar a câmara de fissão 3B antes que conseguisse sair. Tive de me arrastar até à enfermaria na área descontaminada e lá reconstruiram o membro com CCA (crescimento celular acelerado). Fiquei de baixa por dois dias até a perna estar completa. Senti que não ter um corpo, ter sim uma máquina com peças substituíveis...
Andava outra vez a pensar em ter filhos, mas precisava de autorização e de sorte para que eles fossem aprovados e seleccionados para uma manipulação que lhes desse uma vida melhor que a minha.
Os 375 milhões de habitantes na cidade em que eu vivia, faziam desta um local muito parecido com os reactores que operava. O equilíbrio era precário e apenas ajustado milimetricamente para compensar alterações. Os reactores e todo o equipamento que alimentava a cidade estava sempre a ser levado ao limite com as necessidades crescentes da população apesar das normas limitativas da direcção geral.
Depois de um dia de trabalho, passava cerca de duas horas em banhos químicos de descontaminação, depois ficava ainda mais meia hora num campo magnético para reduzir a radiação a níveis que não fossem letais para outros que não fossem como eu. Chegava a "casa" e enfiava-me na cama, com simples comandos verbais ordenava o meu espaço, pedia o jantar que invariavelmente era CCS (Cambell's Complete Soup). A parede recolhia a mesa e o prato enquanto a música ambiente continua a fundir-se com os ruídos de servo-motores que fazem surgir a casa de banho da mesma parede.
Deitava-me e pedia que aparecessem no ecrã as imagens de animais e árvores que existiam noutros tempos. Nem imagino a que cheiravam as plantas e os animais, os sons tinham sido gravados e aumentavam as saudades daquilo que nunca tive.
Fechava os olhos enquanto ouvia o uivar duma criatura que se chamava lobo, imaginava-me a seu lado com o frio da noite a aguçar os meus sentidos. Adormecia e logo acordava para mais uma injecção de realidade.
A minha série precisava apenas de 4 horas por dia para descansar...

1 comentário:

Babs disse...

Wow...