quarta-feira, setembro 12, 2007

Biomecanoide em fuga...


Hoje estou cansado... quase ao ponto de ficar transparente e me deixar desvanecer sem medo. Após uns ensurdecedores momentos na noite, sinto o desejo de ador,ecer em paz, sem mais acordar, sem mais ter de me elevar e pegar no estojo de primeiros socorros para remendar o que se estragou ontem.
Estou tão cansado que já nem sinto vontade de reclamar "alto" com o mundo e com a cegueira que nele impera. Não vou cair na repetição do que acho que deveriamos ouvir, ver sentir... O ser humano tem de ser capaz de o fazer autonomamente, sem ajudas e sem alguém para o lembrar.
A nesga de luz que por vezes perfura a telha que nos reduz às sombras é uma bênção. Conseguimos por um instante vislumbrar como tudo poderia ser se... como se tivéssemos agido de maneira diferente nada estaria como... temos de olhar em frente e não esquecer as lições duramente aprendidas para que esta amostra de luz não mais nos abandone.
Os "ses" da nossa vida arrastam-nos constantemente para um estado quase catatónico perante a vida. Perdemos segundos preciosos a lamentar o que deveriamos ter feito ou não ter feito, esses segundos multiplicam-se em horas e em dias que sorrateiramente sugam o tempo que ainda nos resta. E depois se o emprego que temos não é o que queremos? E que tem estarmos de novo zangados com a nossa cara metade? E o que tem demais estar muito transito? Não param para pensar que o emprego ranhoso que temos permite-nos existir na sociedade e alimentar o carro que esgota o dinheiro pelo escape no meio do caos egoista das estradas em hora de ponta, que ainda nos faz chegar de novo atrasados para o jantar de familia agravado pela neura que acumulamos do dia-a-dia. Não param para disfrutar os escassos momentos que temos com aqueles que amamos porque ainda estamos absortos pela merda dos problemas que em nada contribuem para nós e para ninguém. Não respiram fundo, cheiram o ar da casa com uma amálgama de fragrâncias da pele dum filho, do cabelo da mulher do sofá manchado daquela vez que nos divertimos a ver o nosso rebento a comer o seu primeiro gelado. Não olhamos as paredes do corredor, testemunhas arranhadas das primeiras peças de mobilia que entraram por estas portas, por nossa escolha.
Não queria cair na repetição e caí...





Estou mesmo muito cansado e vou deixar que o sono apague de vez aquilo que despejo aqui e ali nas formas mais completas possiveis de exorcisar o negro.
O negro é a escuridão... medonha! Confortante. Lá estão todos os sonhos e medos que fazem de nós os maravilhosos seres pensantes com alma que ainda acreditam que as coisas vão melhorar.
Na escuridão encontramos a surdez dos factos e ansiamos pela melodia dissonante dos sonhos.
Será assim tão mau encontar o fim?

2 comentários:

Flash disse...

Tira as telhas e deixa entrar a luz. Se por acaso chover e o teu corpo se molhar, secarás um dia, mas sem luz definha-se.

Abraço luminoso

Lurdes Pereira disse...

Gosto muito dos teus desabafos da rotina urbana...A sério que gosto!São crueis como a existência absurda a que nos deixamos agarrar...Mas também percebo que são apelos a um outro modo de ver a vida.És sensível às pequenas coisas que dão grandeza e sentido a este passeio pelo planeta...A inquietação fica-te bem!