quarta-feira, novembro 09, 2011

Primeiros passos

  Estava absorto pela visão da entrada do supermercado, quando os seus ouvidos foram assaltados pelo silêncio repentino da cessação da moagem do café. O zumbido murmurante das lâmpadas florescentes não era suficiente para preencher o vazio deixado pelo incessante esmagar de grãos torrados da beberagem a que chamavam café naquele sitio. A senhora que atendia ao balcão sentou-se atrás do mesmo a preencher a falta de movimento com os conselhos emocionais desmiolados duma qualquer revista cor-de-rosa.
Virou-se novamente para a janela e foi surpreendido com um pulsar nos ouvidos, dignos duma corrida esgotante e repentina do perseguir dum autocarro. Sentia o coração a rebentar-lhe os tímpanos e ao
fechar os olhos na vã esperança de se recompor assim, pareceu-lhe ouvir mais uma batida. Quase indistinta do seu músculo cardíaco a batida era persistente ao acompanhar a atenção agora a si despendida.Sentia um respirar baixinho como se de um murmúrio se tratasse...

Inevitavelmente os minutos que ali passava à escuta tornaram invisível a tão desejada abertura da porta do supermercado, o tempo arrastava-se para se dar à sua audição atenta.
Algo em si pulsava e vivia escondido até aquele momento. Num brusco movimento, o ser puxou-lhe as pálpebras a abrir e fixou-lhe os olhos no supermercado que agora abria. Com a adrenalina a impulsionar o violento levantar de mesa, saiu do café deixando uma soma demasiado elevada para um "café" sem sequer se importar com o troco, a revista cor-de-rosa também toldou a empregada de qualquer comentário acerca disso.
Os batimentos no peito aumentavam a cada passo que o levava mais perto do seu primeiro objectivo.

Começara...