segunda-feira, julho 10, 2017
Sem paz
E a noite finalmente vem... com a promessa de paz e da fadiga que nos leva ao negrume do sono. Mas como levar para o breu a paz se nos sobrecarrega a mente um fardo que afinal não é só um fardo. Cresceu por entre as brechas que permitimos abrir ao longo dos anos e cresceu... silenciosamente abriu mais brechas ainda e permitiu-se ocupar muito maior lugar do que dava a perceber.
Enraizou-se por entre as vértebras e tomou como raiz cada filamento do ser. Floresceu por entre chagas que teimaram não mais fechar, mantiveram abertas e vivas as feridas que de outra maneira desapareceriam numa amálgama de tecido cicatrizado.
Após todo este tempo os olhos se me abrem e deixam ver até que ponto deixei que a criatura daninha tomasse o espaço antes luminoso. Os seus ramos se retorcem por entre mim e apertam-se contra os órgãos vitais para que pensemos impossível a sua remoção.
Hoje tentei romper com algumas dessas heras constritoras... não sei lidar com o espaço que deixaram... com o derrame incessante dos vincos onde antes apertavam os seus caules negros.
O libertar de um membro, o urro que liberta-nos destas algemas assusta-nos... assusta quem nos rodeia... deixa-nos sós.
A besta deveria estar trancada numa caixa à prova de som e sem janelas. Não feriria quem a rodeia, não causaria temor a quem ama, cuidaria depois de si e dos que a rodeiam.
No inebriar da vil bebida filtra cada gota de fel que lhe escorreu pelos lábios. Soma cansaço e derrota e de novo surge a vontade de desaparecer no negrume... no breu.
Sem luz nem som... a besta cai.
sexta-feira, agosto 26, 2016
Out of the box... into the abyss
No way i could just not put myself out there once again today...
Seems like some part of me has been ripped from my body stealthily, silently and I've just seen the hole that was left behind.
Piece by piece all of what was once built is taken and shredded... disposed of as filth.
Today I can picture fluids draining as i gaze at the very end of my hardened soul as it disappears into the abyss. I try to hold some of it as it slips between my fingers and it claims my effort as pointless.
Can I, once again, get hold of whats left and rebuild my foundations so that i can rise and endure the test of time and the test of myself?
Had a comfortable box, tiny, safe, with no illusions and no horizons... You showed me that there was more, much more that i could ever imagine. Stepped out and flushed as the heat took over the air that surrounded me and made me humbler and bigger than ever before. The only catch was that no longer i could have a box to keep my chest closed and safe. I would never go back to the box... as i fall into the abyss, hurt, i devour the unexpected to come as it rips my gums in pain and bathes my tong in a never ending succession of life's flavors.
Will i meet you on the way to the unknown and we shall hold hands to venture into the unpredictable? I sure wish that i can hold your hand, your body in an embrace, warm...
quarta-feira, novembro 09, 2011
Primeiros passos
Estava absorto pela visão da entrada do supermercado, quando os seus ouvidos foram assaltados pelo silêncio repentino da cessação da moagem do café. O zumbido murmurante das lâmpadas florescentes não era suficiente para preencher o vazio deixado pelo incessante esmagar de grãos torrados da beberagem a que chamavam café naquele sitio. A senhora que atendia ao balcão sentou-se atrás do mesmo a preencher a falta de movimento com os conselhos emocionais desmiolados duma qualquer revista cor-de-rosa.
Virou-se novamente para a janela e foi surpreendido com um pulsar nos ouvidos, dignos duma corrida esgotante e repentina do perseguir dum autocarro. Sentia o coração a rebentar-lhe os tímpanos e ao
fechar os olhos na vã esperança de se recompor assim, pareceu-lhe ouvir mais uma batida. Quase indistinta do seu músculo cardíaco a batida era persistente ao acompanhar a atenção agora a si despendida.Sentia um respirar baixinho como se de um murmúrio se tratasse...
Inevitavelmente os minutos que ali passava à escuta tornaram invisível a tão desejada abertura da porta do supermercado, o tempo arrastava-se para se dar à sua audição atenta.
Algo em si pulsava e vivia escondido até aquele momento. Num brusco movimento, o ser puxou-lhe as pálpebras a abrir e fixou-lhe os olhos no supermercado que agora abria. Com a adrenalina a impulsionar o violento levantar de mesa, saiu do café deixando uma soma demasiado elevada para um "café" sem sequer se importar com o troco, a revista cor-de-rosa também toldou a empregada de qualquer comentário acerca disso.
Os batimentos no peito aumentavam a cada passo que o levava mais perto do seu primeiro objectivo.
Começara...
Virou-se novamente para a janela e foi surpreendido com um pulsar nos ouvidos, dignos duma corrida esgotante e repentina do perseguir dum autocarro. Sentia o coração a rebentar-lhe os tímpanos e ao
fechar os olhos na vã esperança de se recompor assim, pareceu-lhe ouvir mais uma batida. Quase indistinta do seu músculo cardíaco a batida era persistente ao acompanhar a atenção agora a si despendida.Sentia um respirar baixinho como se de um murmúrio se tratasse...
Algo em si pulsava e vivia escondido até aquele momento. Num brusco movimento, o ser puxou-lhe as pálpebras a abrir e fixou-lhe os olhos no supermercado que agora abria. Com a adrenalina a impulsionar o violento levantar de mesa, saiu do café deixando uma soma demasiado elevada para um "café" sem sequer se importar com o troco, a revista cor-de-rosa também toldou a empregada de qualquer comentário acerca disso.
Os batimentos no peito aumentavam a cada passo que o levava mais perto do seu primeiro objectivo.
Começara...
quarta-feira, outubro 12, 2011
Partes...
A noite escorregou lenta pelos seus olhos. Parecia infinita e disposta a guardar-lhe o prazer da descoberta para sempre nos seus sonhos... olhava a sua obra no embalar metálico de Morfeu e estranhava a impulsividade. Analisava cada passo, cada pormenor até à exaustão. Tinha de ter um objectivo, um caminho a percorrer, uma razão que respondesse à sua desmesurada fome, mas ao mesmo tempo que lhe permitisse crescer e ser mais preciso e consistente...
Frases percorriam-lhe o sono dos justos deixando marcas à sua passagem, deixando pistas, conceitos, valores, pedidos.
O sol ousava despontar no horizonte e trouxe-o de volta à consciência. A visão turva e assoberbada pela luz duma íris ainda demasiado dilatada não lhe impediram de pronunciar as palavras que sobraram do sono - "O todo é feito de partes!".
Não sabia como tal sequência linguística teria feito sentir a sua presença tão marcadamente numa mente desprovida de sensibilidade. Dirigiu-se à cozinha para tomar um bem merecido almoço por entre o trautear irreconhecível duma qualquer melodia alimentada pelo seu ego e o assobiar tão ou mais indistinguível. Estava absorto nos seus pensamentos quando tirou um pão que deveria ter pelo menos uns três dias e colocou-o na mesa. Numa agilidade instintiva, puxou rapidamente uma faca de pão do bloco e começou o árduo trabalho de cortar a forma petrificada que outrora seria o pão.
Parou de assobiar e sentiu a vibração dos dentes da faca enquanto esta se debatia com a dureza do alimento que teimava em resistir às suas investidas. Fazia um ruído surdo, abafado, que duma forma incompreensível despertava-lhe um certo prazer.
Com os olhos postos no nada, finalizou a sessão de corte e deixou cair o olhar sobre o pão fatiado. "O todo é feito de partes!". Parecia fazer sentido agora... precisava de mostrar que o todo deve ser visto nas suas partes mais básicas, que devem ser educados a olhar com atenção e não perder os detalhes que lhes seriam revelados pelas partes.
Saiu intempestivamente sem tocar em mais nada, saiu ainda com o cheiro da noite impregnado no seu cabelo longo que teimava em lhe cobrir os olhos. Dirigiu-se apressado a um supermercado local que ainda estava fechado, não havia sido cuidadoso nem metódico. Dirigiu-se com um objectivo e não preparou o caminho; serviu-lhe de primeira lição. Parou o impaciente passo atrás de passo quase ritual de tão repetitivo em frente da entrada e colocou ordem no caos. Olhou em volta para uma rua lisa e fria e avistou um café suficientemente perto para ver o supermercado a abrir. Dirigiu-se para lá, abriu um sorriso próprio dum cidadão civilizado e tentou um "bom dia" suficientemente humano para que lhe respondessem.
Vigiava o supermercado enquanto despejava um café horrível para um estômago esmagado pela ansiedade...
Hoje nascia uma nova ordem... a sua.
sexta-feira, julho 08, 2011
O caminho...
A noite envolvia todo o espaço que as luzes fracassavam iluminar, todo o quadro amarelado pintado pela dádiva de Thomas Edison à humanidade carecia de cor... como ele precisava.
Cada passo, ruidoso, esmagava as folhas seca e enregeladas no chão, provocando ecos solitários pelos muros que ladeavam o caminho para o seu próximo encontro. Ouvia-se respirar e agradecia essa dádiva, agradecia o cortar impiedoso do frio nas suas mãos ainda húmidas do despejar da vida que há pouco tirara deste mundo.
O caminho parecia cada vez mais longo, desprovido de destino definido, carecia dum objectivo que alimentasse a fome que teimava em não se saciar.
...
O estalido das folhas congelou o tempo, tudo parou...
...
O caminho era longo, infinito até... uma lição para a sua crescente impaciência?
...
Deteve-se. Voltou no mesmo caminho, mas agora para casa. Tinha de ter um destino, um objectivo, senão seria apenas mais um dos impuros que desprezava.
...
Pensou que a frase que havia ouvido de raspão há muito fazia todo o sentido agora: "O caminho é mais importante que o destino...". Atreveu-se a acabar a frase: "O destino fica no fim do caminho, mas não significa que este tenha encontrado de facto o seu fim!"
Sentia-se orgulhoso e sorridente. Não havia cedido à fome, tinha de controlar os seus impulsos "alimentares".
Amanhã o caminho irá findar temporariamente no destino a determinar...
quinta-feira, junho 30, 2011
Boca seca
Ainda era noite...
A realidade cortou-lhe as pálpebras no efémero encadeamento dum qualquer carro perdido.
Ainda segurava na sua mão esquerda a fria garganta do impuro. A sua mão direita, outrora aquecida pelos fluidos que jorraram abundantemente das entranhas pútridas, jazia gelada e una com os restos ressequidos.
Perdeu um momento para admirar a sua presa, deslumbrou-se com a facilidade com que deu fim à periclitante existência daquela carcaça. Mas este era impuro, merecia... mas não era merecedor dos seus esforços, não era uma presa condigna... mas estava feito, e bem feito!
O turbilhão que o tomara estava agora apaziguado, despido de remorsos e silencioso deliciava-se com a overdose de adrenalina que havia tomado. Não sabia o seu nome, nem porque o conseguiu distinguir dos demais, sabia que apenas que o seu fim era naquele momento. Mirou-o mais uma vez antes de cambalear pelas sombras omnipresentes das ruas nocturnas.
A cada passo que dava, o vento varria-lhe as orelhas com sussurros incompreensíveis. Laminas frias de ar deixavam-lhe a pele castigada, lembravam-lhe da fragilidade da vida, faziam-lhe engolir em seco ao ansiar o próximo encontro.
O vento acompanhou-o até à sua porta, indiferente. Ficou ali parado, inerte a olhar fixamente a porta, à fronteira entre o terreno de caça e o seu abrigo.
...
O vento voltou-lhe a sussurrar... desta vez ele compreendeu.
...
Contornou a casa até ao pátio nas traseiras e lavou as mãos na torneira do jardim. Foi com prazer que acolheu a dor da água gelada nas suas mãos, ainda estava vivo, sentia a dor, a vida só existe se se sentir dor.
Os seus lábios há muito igualaram a boca na secura provocada pelo frio, sabia que cedo sentiria o salivar ao vislumbrar a próxima presa... estava insaciável, a fome não o deixava dormir!
...
Determinado e encorajado pelas sugestões de Éolo, pisou determinado as sombras omnipresentes das ruas nocturnas... Alguém iria deixar de sentir dor ainda naquela noite.
A realidade cortou-lhe as pálpebras no efémero encadeamento dum qualquer carro perdido.
Ainda segurava na sua mão esquerda a fria garganta do impuro. A sua mão direita, outrora aquecida pelos fluidos que jorraram abundantemente das entranhas pútridas, jazia gelada e una com os restos ressequidos.
Perdeu um momento para admirar a sua presa, deslumbrou-se com a facilidade com que deu fim à periclitante existência daquela carcaça. Mas este era impuro, merecia... mas não era merecedor dos seus esforços, não era uma presa condigna... mas estava feito, e bem feito!
O turbilhão que o tomara estava agora apaziguado, despido de remorsos e silencioso deliciava-se com a overdose de adrenalina que havia tomado. Não sabia o seu nome, nem porque o conseguiu distinguir dos demais, sabia que apenas que o seu fim era naquele momento. Mirou-o mais uma vez antes de cambalear pelas sombras omnipresentes das ruas nocturnas.
A cada passo que dava, o vento varria-lhe as orelhas com sussurros incompreensíveis. Laminas frias de ar deixavam-lhe a pele castigada, lembravam-lhe da fragilidade da vida, faziam-lhe engolir em seco ao ansiar o próximo encontro.
O vento acompanhou-o até à sua porta, indiferente. Ficou ali parado, inerte a olhar fixamente a porta, à fronteira entre o terreno de caça e o seu abrigo.
...
O vento voltou-lhe a sussurrar... desta vez ele compreendeu.
...
Contornou a casa até ao pátio nas traseiras e lavou as mãos na torneira do jardim. Foi com prazer que acolheu a dor da água gelada nas suas mãos, ainda estava vivo, sentia a dor, a vida só existe se se sentir dor.
Os seus lábios há muito igualaram a boca na secura provocada pelo frio, sabia que cedo sentiria o salivar ao vislumbrar a próxima presa... estava insaciável, a fome não o deixava dormir!
...
Determinado e encorajado pelas sugestões de Éolo, pisou determinado as sombras omnipresentes das ruas nocturnas... Alguém iria deixar de sentir dor ainda naquela noite.
terça-feira, junho 28, 2011
Passeio pelos caminhos da demência
Estava cansado... tinha tido um dia longo e recheado de actividades repetitivas e acéfalas. O seu íntimo ansiava por algo mais, por algo que fizesse o seu coração bater mais depressa, pela adrenalina a encharcar os seus sentidos a atear chamas profanas em cada músculo do seu corpo...
Mas estava tão cansado...
Depois de resistir por mais alguns minutos, despiu a pele do dia-a-dia e recolheu-se no seu leito gelado e só. Havia muito tempo que deixara de sentir o calor de alguém a seu lado, tinha apenas o frio, o frio que o acompanhava teimosamente a cada início de noite e o traia com a chegada do calor do seu corpo ausentando-se para o lado vazio do colechão que recebia, gemendo por vezes, o seu corpo esgotado.
O seu desagrado depressa deu lugar à avalanche que fez sucumbir as suas pálpebras ao peso do sono merecido. Tinha acabado o dia, nada de mais tinha acontecido, estava vazio... as trevas tomaram conta da consciência.
Já dormia profundamente... sentia no interior da sua cabeça o pulsar lento mas poderoso do músculo incessante. Aos seus olhos fechados surgia o caminho, passo a passo, a sair de casa.
Sentia-se particularmente forte naquele momento, os seus dedos pareciam ter-se banhado em metal fundido que lhos queimara conferindo-lhes no entanto a dureza do aço.
Cambaleou pelas ruas doentes de icterícia, silenciosas, despidas de gente. Sentia uma necessidade animal de caçar.
Numa qualquer rua comercial ouviu passos arrastados num beco que guardava nas suas entranhas os desperdícios duma humanidade que já não quer saber. Apressou o seu passo... sem se fazer ouvir, claro! Estava a caçar...
Espreitou o trato imundo que lhe revelou a silhueta de alguém que resolvera arrastar um pobre diabo inconsciente para que fosse consumido na imundice. Atirou-o para o chão com desdém, procurou cada compartimento da sua pele da noite em busca do vil papel. Precisava de satisfazer o animal em si, não o mesmo que fazia caçar, este animal tinha nascido de perfurações com aço que despejavam ilusões para o corpo e o faziam crescer a cada dia.
Este escravo do animal já teria esgotado as suas fontes para ter de despojar um qualquer herbívoro que por ali circulava, de todas as suas posses transaccionáveis.
O bater incessante na cabeça aumentou em volume, força e intensidade. Queria caçar o impuro que fitava com desprezo. Este impuro não caçava para alimentar a sua fome, destruía o que bem lhe apetecesse se lhe pusesse um pouco mais próximo do seu sustento, do seu esteróide de crescimento.
Faltavam apenas 6 segundos...
1...2... Os seus músculos contraíram-se duma forma quase felina antes do golpe final...
3...4...5... Escolhe a sombra para escapar à visão periférica do impuro...
6! Avança num salto sem espaço para qualquer reacção! Com a mão esquerda constritora no seu pescoço, esmaga ruidosamente as suas costas contra a parede!
O impuro sucumbe aos instintos errados de auto preservação agarrando a sua mão que agora sente o colapsar da traqueia... a sua camisola gasta revela o seu abdómen despido, incolor, magro,. Num movimento rápido acaba com a sua triste existência, carrega sobe o seu estomago sentindo o quente rasgar da sua pele... olha-o nos olhos ao ver esvair-se o imundo do seu der, aguarda o seu fim num silêncio forçado enquanto lhe segreda: "Estás livre!"
...
Aguarda enquanto sente o calor a esvair-se com os seus fluidos que agora trocaram o interior do impuro pela rudeza dos seus dedos
...
Inebriado, deixa o seu subconsciente tomar as rédeas do sono e de novo a escuridão se abate ...
...
Ainda dorme... mas está a sorrir...
segunda-feira, maio 09, 2011
Biomassa
Aqueles com espírito, com alma, com algo de especial... estão rodeados por uma amálgama de células e cadeias proteicas despidas de qualquer razão ou visão. Entorpecem-se cada vez mais os sentidos e apercebo-me da voz esvaída da criatura que me habita.
Tenho receio do que me diz. Aparece de repente, ressuscitada sabe-se lá bem porquê tenta abalar-me com a sua visão negra e distorcida do mundo. Mostra-me a biomassa "inteligente" que serpenteia pelos quatro cantos do mundo, a destruir-se em grande escala e a fazer toda a diferença numa escala aterrorizantemente menor. Estas criaturas desenvolveram mecanismos brutais para compensar o vazio a que obriga a vivência em massa. Despem-se de sentidos e enchem-se de coisas, rituais, protocolos, maneirismos, modas e estilos, sons e cores, reflexos e imagens... para além de tudo isso o primata dotado de "inteligência" não consegue, na generalidade, ver o que está a seus pés nem o que o rodeia duma forma tão íntima como faz o ar. O que outrora levou grandes mentes a descobrir, a se interrogar, a valorizar a bela complexidade que nos faz, não passa hoje de um conjunto de movimentos e acções involuntárias que dispensam qualquer reflexão.
Segredas-me a desgraça humana, descascas a pele e mostras a podridão que tomou o lugar da alma. Não acreditava na alma... agora quero acreditar. Tem de haver um objectivo maior, não podemos ser apenas uma fracção infinitamente pequena no ciclo eterno da matéria e dos mundos. Temos mentes, acreditamos (poucos), voamos com a a imaginação e fazemos outros nos seguirem, nos sorrirem. Vemos o que de bom cada um de nós tem e poderá ainda ser, levamos as vidas para a frente com fracções de tempo em que nos sentimos verdadeiramente humanos, únicos, ímpares.
...
Depois paro.
...
Vejo versões de nós cada vez mas distorcidas, poluídas pelo constante despejar de ilusões que criamos para nós próprios...
...
Paro novamente...
...
Eu amo! Esse amor que me eleva a um estado de vida, que me faz ver mais longe e mais fundo do que nunca. Esse amor que me segura, defende e mostra-me que afinal o que conta está bem perto, num espaço mais pequeno que o planeta, a ocupar um espaço maior que o universo inteiro. Este amor que me possui e me pertence, lava-me os olhos para ver que este amor tão insignificante perante o mundo e tão vasto como o inimaginável infinito, ilumina com um ponto onde estou a cada segundo. Existem milhões de pontinhos por esse mundo fora, biliões que dissipam a névoa da biomassa irracional que nos é forçada a ver.
...
Ainda não parei definitivamente...
Ver-vos-ei muitas órbitas para o futuro...
...
Obrigado meus amores, sei viver por vossa causa.
D.M.
Tenho receio do que me diz. Aparece de repente, ressuscitada sabe-se lá bem porquê tenta abalar-me com a sua visão negra e distorcida do mundo. Mostra-me a biomassa "inteligente" que serpenteia pelos quatro cantos do mundo, a destruir-se em grande escala e a fazer toda a diferença numa escala aterrorizantemente menor. Estas criaturas desenvolveram mecanismos brutais para compensar o vazio a que obriga a vivência em massa. Despem-se de sentidos e enchem-se de coisas, rituais, protocolos, maneirismos, modas e estilos, sons e cores, reflexos e imagens... para além de tudo isso o primata dotado de "inteligência" não consegue, na generalidade, ver o que está a seus pés nem o que o rodeia duma forma tão íntima como faz o ar. O que outrora levou grandes mentes a descobrir, a se interrogar, a valorizar a bela complexidade que nos faz, não passa hoje de um conjunto de movimentos e acções involuntárias que dispensam qualquer reflexão.
Segredas-me a desgraça humana, descascas a pele e mostras a podridão que tomou o lugar da alma. Não acreditava na alma... agora quero acreditar. Tem de haver um objectivo maior, não podemos ser apenas uma fracção infinitamente pequena no ciclo eterno da matéria e dos mundos. Temos mentes, acreditamos (poucos), voamos com a a imaginação e fazemos outros nos seguirem, nos sorrirem. Vemos o que de bom cada um de nós tem e poderá ainda ser, levamos as vidas para a frente com fracções de tempo em que nos sentimos verdadeiramente humanos, únicos, ímpares.
...
Depois paro.
...
Vejo versões de nós cada vez mas distorcidas, poluídas pelo constante despejar de ilusões que criamos para nós próprios...
...
Paro novamente...
...
Eu amo! Esse amor que me eleva a um estado de vida, que me faz ver mais longe e mais fundo do que nunca. Esse amor que me segura, defende e mostra-me que afinal o que conta está bem perto, num espaço mais pequeno que o planeta, a ocupar um espaço maior que o universo inteiro. Este amor que me possui e me pertence, lava-me os olhos para ver que este amor tão insignificante perante o mundo e tão vasto como o inimaginável infinito, ilumina com um ponto onde estou a cada segundo. Existem milhões de pontinhos por esse mundo fora, biliões que dissipam a névoa da biomassa irracional que nos é forçada a ver.
...
Ainda não parei definitivamente...
Ver-vos-ei muitas órbitas para o futuro...
...
Obrigado meus amores, sei viver por vossa causa.
D.M.
segunda-feira, dezembro 27, 2010
NABO!!!
Pois é... para quem não sabe, este sou eu hoje! Meto os pés pelas mãos, tento duma forma estantânea e (na minha nabice) eficaz, levar-te a outro assunto e que te retire esse sentimento que te magoa. Sou nabo porque já tenho de saber que não há soluções estantâneas, nem milagrosas, nem eficazes quando é a alma que nos dói.
Venho portanto publicamente expor o meu baixíssimo Q.E. e a falta de jeito quando tudo o que me apetece é enterrar-me na terra e desaparecer depois duma destas! Desculpa-me!
Sou assumidamente NABO, tubérculo que teima em evoluir para pessoa e que lá há de chegar!
AQDS! Muito!
Venho portanto publicamente expor o meu baixíssimo Q.E. e a falta de jeito quando tudo o que me apetece é enterrar-me na terra e desaparecer depois duma destas! Desculpa-me!
Sou assumidamente NABO, tubérculo que teima em evoluir para pessoa e que lá há de chegar!
AQDS! Muito!
quarta-feira, dezembro 15, 2010
Like the stars...
Vejo-me desimpedido de filtrar e aprimorar o que de repente se torna tão óbvio... vejo-te à minha frente, olhos atentos na janela virtual, ouvidos distraidos, e eu aqui a ver-te tão diferente tão igual. Almas gémeas dum paradoxo que confunde e enriquece os momentos que acrescento à fugaz existência que deixo neste mundo. Somos como um sistema binário de estrelas que orbita eternamente marcando o vazio com linhas nunca paralelas, nunca parecidas, nunca iguais, sempre belas no seu conjunto. Assim somos nós meu amor, tu olhas-me nos olhos da mesma maneira que olhas o mundo, objectivamente, com regras, com definições exactas sem saberes que me maravilhas com o rasto de descoberta "inconsciente" que deixas para trás.
És mais do que alguma vez esperava e muito mais do que alguma vez me atreverei antever...
AQDS
sábado, maio 15, 2010
terça-feira, maio 11, 2010
(in)Consciência
Nestes últimos tempos tenho sido confrontado com muitas verdades que me assombravam noutros tempos como possibilidades a temer. Para ser mais claro, acabo de assumir as minhas próprias fragilidades e aprendo, dia-a-dia, a usá-las para meu proveito. Parece-me ainda algo imprudente a exposição que me proponho, o instinto de auto defesa entra em acção e quase me escondo de novo.
A minha alma gémea ajuda-me a viver assim, frágil... humano. Começo a ver cores diferentes e os outros sentidos exaltam-se com a novidade de sensações antigas outrora ignoradas. Sinto-me um puto no meio do maior museu do mundo, recheado de imagens e esculturas, formas e cores para descobrir, um mundo de saberes e sabores que anseio avidamente. Vejo abstracção tornar-se surrealismo, cubismo encaixar-se no realismo e um sem fim de indefinições a tomarem forma pela mão e voz duma guia que nem suspeitava o ser. Ela leva-me devagarinho, porque tenho medo, sossega-me com seu olhar e sorrisos e faz-me confiar em cada passo que me guia. Leva-me pela mão porque na sua natureza achou-me perdido e decidiu imediatamente ajudar... mostra-me este novo mundo sem no entanto sequer suspeitar o quão distante dele estava, o quanto me sentia disforme perante a multiplicidade e complexidade do que agora contemplo com admiração.
Parei para olhar o primeiro quadro, é o grito, o sofrimento sonoro numa representação plástica inconfundível e cruamente verdadeira. Não gostei do que senti, gostei do que aprendi, do que me ensinaste a levar deste grito, deste medo, desta dor. Saíram pedras das minhas costas e, graças a ti, caminho mais leve rumo a uma consciência, uma percepção despida dum prefixo de negação que nunca havia visto antes.
Obrigado.
quinta-feira, dezembro 03, 2009
In english 'cause its sweeter... part 1
A kids song... ?
One, two,
I stalk you...
Three, four,
Follow you to your door...
Five, six,
Consider the risks...
Seven, eight,
Sit and wait...
Nine, ten,
Again and again...
...
One, two,
Walk to you...
Three, four,
Knock down your door...
Five, six,
Don't care about the risks...
Seven, eight,
Shout my hate!
Nine, ten,
Hit you again and again!
...
One, two,
I stare at you...
Three, four,
Lain on the floor...
Five, six,
You're in bits...
Seven, eight,
I clean and scrape...
Nine, ten,
Dump you in a garbage can...
...
One, two,
You're quiet too...
Three, four,
No rage, no more...
Five, six,
The ceiling drips...
Seven, eight,
Fed my hate...
Nine, ten,
I would do it all over again!
...
(This is a stupid little song that poped up in my mind and i just had to get it out!)
One, two,
I stalk you...
Three, four,
Follow you to your door...
Five, six,
Consider the risks...
Seven, eight,
Sit and wait...
Nine, ten,
Again and again...
...
One, two,
Walk to you...
Three, four,
Knock down your door...
Five, six,
Don't care about the risks...
Seven, eight,
Shout my hate!
Nine, ten,
Hit you again and again!
...
One, two,
I stare at you...
Three, four,
Lain on the floor...
Five, six,
You're in bits...
Seven, eight,
I clean and scrape...
Nine, ten,
Dump you in a garbage can...
...
One, two,
You're quiet too...
Three, four,
No rage, no more...
Five, six,
The ceiling drips...
Seven, eight,
Fed my hate...
Nine, ten,
I would do it all over again!
...
(This is a stupid little song that poped up in my mind and i just had to get it out!)
segunda-feira, fevereiro 09, 2009
Reciclagem
Parece-me às vezes que a vida é uma sucessão de reciclagens. Partem-se bases, relações, sentimentos, alegrias... cabe-nos a função de separar o reciclável e tentar fazer algo novo com o que outrora se erguia por si só como entidade. Da amálgama colorida ou cinzenta dos cacos, pouco a pouco, vamos fundindo no calor que nos resta uma luminosa e indefinida futura estrutura.
No meio dos cacos pode surgir também uma nova ideia. Fundir tudo para começar de novo pode não ser a melhor solução. A mente está povoada de ingenuidade suficiente para acreditar em soluções alternativas. Prolongam-se horas e dias em fitamos o desperdício sem nada fazer. Impotentes achamos, sem solução à vista. A percepção deturpada pelo choque do quebrar que nos deixa inanimados, frios e apáticos... Vitral! Olhamos os bocados e reconfiguramo-os na mente, vemos nascer uma imagem rica e colorida do caos.
Neste momento procuro a cola que vai juntar os meus bocadinhos. Voltarei quando o vitral estiver completo.
D.M.
No meio dos cacos pode surgir também uma nova ideia. Fundir tudo para começar de novo pode não ser a melhor solução. A mente está povoada de ingenuidade suficiente para acreditar em soluções alternativas. Prolongam-se horas e dias em fitamos o desperdício sem nada fazer. Impotentes achamos, sem solução à vista. A percepção deturpada pelo choque do quebrar que nos deixa inanimados, frios e apáticos... Vitral! Olhamos os bocados e reconfiguramo-os na mente, vemos nascer uma imagem rica e colorida do caos.
Neste momento procuro a cola que vai juntar os meus bocadinhos. Voltarei quando o vitral estiver completo.
D.M.
terça-feira, agosto 26, 2008
Estiveste sempre lá...
Apressei-me ao julgar-te traidor. Como um ignorante aproveitei a minha ira para te enviar para o fundo do poço mais remoto que consegui idealizar... Durante anos a fio segredaste-me como não podia deixar-me levar, que a emoção extrema é inimiga da razão, como seria fácil deitar tudo a perder. Foram precisos mais de 15 anos para me aperceber e lembrar como tinhas razão! Rugi alto e deixei que explodissem afluentes de ira e raiva contidos durante tanto tempo, derrubei muros e portões que guardavam o dique de profanidades que nunca deixei sair e prontamente enclausurei o meu alter-eu tão distorcido e feio como uma carranca, tão desprezado por tantos e apenas amado por mim.
Agora, com a serenidade que o tempo permitiu, olho para trás, vejo o que me quiseste dizer, sinto que afinal ainda tenho muito para aprender. Sei que juntos não vamos erguer mais muros ou portões, que vamos sim aprender com todas a criaturas vis, seres etéreos de chamas verdes, mantos negros de cegueira... eles vão sempre estar lá e contigo aprenderei como controla-los, como tu sempre o fizeste!
És disforme e repugnante, feres os sentidos dos que não te conhecem e nem por isso deixo de te aconchegar ao meu colo.
De ti esperava aquilo que proferi, fui aquilo que te chamam e não pareço, e tu foste o que eu aparento e chamo-te aquilo que fiz.
Obrigado pelo banho de humildade,
D.M.
sexta-feira, maio 16, 2008
Leeeeeento
Pareço cada vez mais um sério concorrente à "velocidade" deste animal. Não escrevo há imenso tempo e, sinceramente, já tenho saudades...
São tempos loucos, de muito cansaço e pouca disponibilidade mental para escrever o que quer que seja de jeito. Por isso, e porque acho que devo manter algum tipo de nível de "qualidade" vou-me abster de pronlogar mais este comentário...
Voltarei a dar notícias... decentes !
D.M.
São tempos loucos, de muito cansaço e pouca disponibilidade mental para escrever o que quer que seja de jeito. Por isso, e porque acho que devo manter algum tipo de nível de "qualidade" vou-me abster de pronlogar mais este comentário...
Voltarei a dar notícias... decentes !
D.M.
segunda-feira, abril 21, 2008
Traição
Sinto-me como as muralhas mudas e destruídas após uma investida bem sucedida ao castelo. Das ruínas apenas se vislumbra nos restos fumegantes a outrora grandiosa cidade que ali se abrigava. Como em lendas de outros tempos, fui traído por alguém que julgava me proteger, alguém que receoso abriu a porta das traseiras e permitiu a barbárie que se desencadeou logo a seguir. Largamente superado pelo enxame caótico que semeava destruição a cada paço, isolado da sanidade que ardia ali ao canto, indefesa, insurgi-me como um escorpião rodeado por chamas, procurando o fim e provocando a dor e frustração no invasor...
A confusão era legítima, o pânico era puro, intenso, mas não havia qualquer intenção de me destruir. O meu amigo monstro, abriu as portas dos calabouços e não das traseiras, não permitiu a entrada mas sim a saída de algo nefasto esquecido nas catacumbas... os demónios avançaram sobre os meus olhos vendando-os, empurrando-me gentilmente na direcção do meu fim, amarrando fios nos meus pulsos que, cortantes, faziam de mim uma macabra marioneta. Fiquei assim por alguns instantes, senti-me perdido e à mercê do medo e da ilusão, soube o que se seguiria e por um segundo ansiei o fim. Mas uma voz rompeu o encantamento, a marcha melancólica e repetitiva estava agora silenciada e caia como uma tonelada de pedras sobre a minha cabeça.
Fiquei prostrado e derrotado perante o que havia feito.
O meu monstro traiu-me, deixou-os sair de onde nunca deveriam ter saído, deixou-os rasgar em pedaços irrecuperáveis o que havia construído até ali. Olho-o agora com desdém na sua figura patética e arrependida, a um canto que pelas suas linhas rectas sobressai a disformidade da criatura. O teu dever era manter-me seguro, entre os dois mundos, agora ou eu que tem a chave e poderás apenas assistir ao que faço, ficarás sozinho...
D.M.
quinta-feira, março 06, 2008
Interlúdio
Na infinidade do tempo somos partículas.
Sentimos a cada frase cortante a nossa insignificância.
A miséria e a má sorte são vistas como filmes e não são tomadas a sério.
O destino prega-nos a partida de se repetir pelos outros e por nós.
A cada passo, a cada decisão, vislumbramos o nosso objectivo sempre dois passos à frente.
Não estou capaz de ver as coisas com outros olhos.
As coisas são o que são e são uma merda.
Por vezes temos de cheirar o fedor que emana da vida.
Deixar de disfarçar com perfume o que sempre cheirou mal.
Provar do fel que nos dão todos os dias a beber.
Dar muito mais valor às pessoas que realmente importam para nós.
Dar muito mais valor aos momentos de felicidade.
Tatuar na alma as gargalhadas dum filho.
Ensurdecer com o respirar suave duma criança adormecida.
Partir a campânula que nos isola da realidade e toma-la em doses pequenas.
Desprezar a mesquinhez de pessoas pequenas que só se fortalecem com o sofrer alheio.
Olha-los enquanto falam, ver as suas bocas imundas mexer e ouvir apenas aquele respirar.
Vê-los vociferar imundices e encher a sala com as gargalhadas.
O mundo pertence aos impuros, mas a nós pertence-nos a alma.
Dentro de nós não há limites, a força enaltece-nos.
Por fora os sentidos embriagam-se com ilusões.
Sentimos a cada frase cortante a nossa insignificância.
A miséria e a má sorte são vistas como filmes e não são tomadas a sério.
O destino prega-nos a partida de se repetir pelos outros e por nós.
A cada passo, a cada decisão, vislumbramos o nosso objectivo sempre dois passos à frente.
Não estou capaz de ver as coisas com outros olhos.
As coisas são o que são e são uma merda.
Por vezes temos de cheirar o fedor que emana da vida.
Deixar de disfarçar com perfume o que sempre cheirou mal.
Provar do fel que nos dão todos os dias a beber.
Dar muito mais valor às pessoas que realmente importam para nós.
Dar muito mais valor aos momentos de felicidade.
Tatuar na alma as gargalhadas dum filho.
Ensurdecer com o respirar suave duma criança adormecida.
Partir a campânula que nos isola da realidade e toma-la em doses pequenas.
Desprezar a mesquinhez de pessoas pequenas que só se fortalecem com o sofrer alheio.
Olha-los enquanto falam, ver as suas bocas imundas mexer e ouvir apenas aquele respirar.
Vê-los vociferar imundices e encher a sala com as gargalhadas.
O mundo pertence aos impuros, mas a nós pertence-nos a alma.
Dentro de nós não há limites, a força enaltece-nos.
Por fora os sentidos embriagam-se com ilusões.
quarta-feira, fevereiro 13, 2008
Longe de mim
São precisos dias incessantes de coisas desinteressantes, de actividades estupidificantes, de caras repetitivas, de máscaras plagiadas, de tumores que não se vêem mas que nos comem por dentro, para darmos valor a este nosso cantinho.
Confesso-me afastado de mim estes dias. Mas não sabia que precisava deste meu refugio como afinal preciso. Fiquei baralhado com a anestesia da rotina que teimava em me reclamar para as suas fileiras que engrossam de dia para dia, resisti...
Não queria ver que, a pouco e pouco, perdia o contacto comigo, perdia o sentido das coisas que tanto tempo me levaram a enxergar.
Mas resisti, tento voltar à exploração em que me empenhava. Vou descobrir mais, vou voltar ainda com mais força.
Pode-se dizer que agora nunca mais poderei desistir de mim.
D.M.
quinta-feira, janeiro 24, 2008
Superfície
Não resisti ao luar. Tive de deixar as profundezas hoje para admirar uma lua cheia, amarelada envolta num véu de névoa que estende a sua luz ainda mais longe. A noite deixa de ser silenciosa e as luzes mesmo dos pontos mais distantes do universo cantam e dançam deixando rastos na memória. Fito o céu olhando o passado que pertenceu ao amanhecer da humanidade, e a um tempo em que ainda não existíamos. Fico mais e mais pequeno, fico insignificante, não percebo o meu papel nesta grandeza das coisas...
Imagino fixar o firmamento uma eternidade de noites, memorizando o percurso de cada furo luminoso no manto negro que me cobre. Fico imenso, sem principio nem fim, sem dor nem carência, sem ansiedade, apenas com o olhar fixo nos desdobrar de cada ponto em milhões de novos pontos até à dispersão me deixar de vez nas trevas. Flutuo alheio ao destino da humanidade, sem tempo.
Um arrepio dez-me recolher o pescoço para dentro da gola do casaco. Estou pequeno, infinitamente pequeno e não percebo o meu papel nesta grandeza das coisas.
D.M.
Imagino fixar o firmamento uma eternidade de noites, memorizando o percurso de cada furo luminoso no manto negro que me cobre. Fico imenso, sem principio nem fim, sem dor nem carência, sem ansiedade, apenas com o olhar fixo nos desdobrar de cada ponto em milhões de novos pontos até à dispersão me deixar de vez nas trevas. Flutuo alheio ao destino da humanidade, sem tempo.
Um arrepio dez-me recolher o pescoço para dentro da gola do casaco. Estou pequeno, infinitamente pequeno e não percebo o meu papel nesta grandeza das coisas.
D.M.
terça-feira, janeiro 22, 2008
Dualidade deliciosa
Não será de certeza a última vez que sou encarado como sendo demasiado pessimista ou tendencialmente negro na minha escrita. Dou espaço para que o meu lado mais censurado tenha a sua voz, que tenha a sua expressão e que seja bem sucedido no descarregar do fardo que é o seu silêncio. Inúmeras vezes vi-me a censurar aquilo que sentia ser o que devia escrever em prol de valores que me sufocavam e me pediam para gritar mais baixinho, para evitar que usasse certas palavras ou expressões, para que fosse politica e moralmente correcto! Fiquei tão farto que quase rebentava e era engolido por camadas de hipocrisia e assim ia deixando o tempo passar e nenhuma outra letra saia deste teclado. Fiquei que tempos a fixar o monitor e a ler o que parecia nunca ter surgido da minha mente, sempre desconfiado da veracidade de tais textos.
Protestei dentro de mim contra mim! Clamei a alto e bom som a cobardia da minha atitude e senti-me quase adolescente de novo. Agora que sinto que os meus dois lados completamente distintos se tocam mais do que nunca e se definem como opostos totais, sinto-me mais rico, mais consciente da minha dualidade. Como posso permitir que o amor e a dor passeiem lado a lado num mundo só meu sem chão nem céu? Feito de pequenos cenários ora negros ora luminosos e cheios de esperança. Deixo a luz esgueirar-se por vezes no breu, mas depressa a recolho e deixo-me nadar livremente neste ouro negro. Cada gota deste lago deitei-a eu do meu sangue, da minha alma e do meu ser, cada recanto do chão contornado pelo líquido vil deixei-o eu que nascesse, cada tronco seco e despido matei-o eu para que se completasse a decadência. Pintei com as cores mais frias e cortantes o cenário que construía para deixar o meu monstro à solta. Dei-lhe recantos e portas e labirintos e um sem fim de túneis inacabáveis, sempre para que não se sentisse de novo amordaçado. Visitei-o vezes sem conta e sussurrou-me ao ouvido as terríveis imagens que um dia escrevi e outras que ainda não tive coragem. Ele sabe o que me tem que me dizer, sabe que eu devoro cada palavra e cada imagem e cada pensamento, sabe que eu os misturo numa fornalha de profanas chamas verdes. Dou-lhe voz e ele da-me paz...
Estamos sempre a pregar que não somo perfeitos, que temos que aceitar os outros com o que têm de bom e de mau, mas nem sequer somos capazes de o fazer connosco! Aceitem-se! Eu estou-me a aceitar.
D.M.
quarta-feira, janeiro 09, 2008
Rebirth
Distância que me escorraça de mim, que me faz indefinido aos sentidos e torna-me numa silhueta difusa que se adivinha humana. Fico temente ao futuro que adivinho sem acreditar e anseio pelo alívio do fim, quer este me traga paz, nova vida ou vazio. Sinto-me no limiar dum qualquer foco que ilumina o caminho a todos, vejo-o e temo-o como se me queimasse a pele e me juntasse às fileiras de autómatos que engrossam a cada segundo que as vislumbro a desaparecer no horizonte. No meu canto escuro procuro o conforto da cegueira mas sou traído por quem o habita. Pouco a pouco sinto a pele a endurecer querendo-se tornar no exoesqueleto que outrora me privou da riqueza e sabor das emoções verdadeiras, boas e dolorosas. Fito passivamente o verme que me envolve na sua seda para que no casulo volte a ser o que fora outrora. Frio, escorre pelo meu braço deixando os seus fios, levando as minhas sensações na sua marcha fúnebre. Grito aos meus braços para que o atirem de vez para o abismo de onde nunca deveria ter ressurgido, sinto-me impotente mas com esperança numa luzinha pequenina que brilha... não me cega nem me leva para o rebanho de inconscientes, desbrava caminho pelos folhos de peles que outrora vesti e vejo-me no centro desta amálgama de células mortas feto, limpo, frágil e deslumbrante. Como pôde tal ser sobreviver a tudo a que o expus? Atrás dele o monstro olha pacientemente para mim enquanto tento compreender como renascer de tanta podridão. Olho-o nos olhos e adivinho o ser que soterrei naquele monstro porque quis que ficasse ao meu lado, o quanto o privei da vida e do saber para que guardasse a porta de todos os verdadeiros monstros que habitam a minha segura e silenciosa escuridão. Sempre tive o meu lado negro bem perto do coração, mas nunca me tinha apercebido que tinha lá entrado, deixado marcas e gasto tempo que nunca mais vou recuperar. Ele já percebeu que o quero deixar ir, para onde quiser, mas não me deixa. Protege-me desde sempre e agora quer ver-me renascer e ser aquele que na sua mudança o vai levar ao repouso... poderei pedir que esperes pelo meu despertar? Já esperaste tanto...
D.M.
quarta-feira, dezembro 12, 2007
Lurking....
A espreitar da escuridão, a criatura outrora semente do mal ergue-se e reclama a minha atenção. Cobardemente invade os meus pensamentos e faz-me divagar sobre o sofrimento que posso causar a quem me consigo aproximar mais. Fantasio baladas negras de gritos enquanto desfaço em dor o olhar surpreendido de quem outrora confiara em mim. Sinto o estalar dos teus ossos debaixo do meu punho cerrado e deixo-te sem fôlego. A cada inspiração a dor aumenta e eu aperto mais para que saibas que não foi sem querer...
Sabes bem o que queres de mim. Alimentas o meu apetite de negrume e afias as garras a cada pulsar nervoso que manifesto ao imaginar o que crias para mim. Saboreio cada sensação, cada reflexo muscular que controlo, cada amargo que a doce me sabe na boca. Sabes que me enfeitiças e tenho de te contar para o mundo senão ao dormir me acompanhas e ao acordar não me deixaste ainda.
Sinto um malogrado prazer em imaginar atrocidades que fluem livres de censura quando menos espero. Cada palavra ou frase que se formam e se agrupam neste "nocturno" são notas duma obra irrepetível e insuportável por outros. Receio o que sucede quando sabem o disforme que me habita o pensamento.
Estava com saudades tuas monstro... bem vindo.
D.M.
segunda-feira, dezembro 03, 2007
Renascido...
Sinto-me como se duma cobra me tratasse. Algo no meu interior excedeu o confinado espaço que sempre lhe reservei e tenho de perder a pele para dar lugar a outra mais flexível. Dei-me o direito de deixar de me proteger do amor que me rodeia, de sentir intensamente cada beijo, carinho, cada olhar meigo ou mais intenso, vibro a cada onda de choque que sai dos teus lábios e do teu olhar.
Vejo as minhas entranhas ruir de tão podres que estavam os seus alicerces. No entulho predominam as camadas de cimento e metal que desajeitadamente, mas de forma sempre eficaz, acrescentei à armadura disforme que me impedia de sorrir e amar com vontade. O pó ainda não assentou totalmente e fico ofegante ao vislumbrar este espaço tão aberto e exposto que é agora o meu peito. Olho para os escombros e já imagino o que posso construir ali. É lindo amar.
Porque passei anos e anos sem me deixar levar neste rodopio de emoções fortes, de sensibilidades quase metafísicas, não sei dizer. O mundo encheu-se de cor, de intensos vermelhos e laranjas e também dos cinzentos, azuis e demais cores frias. Desta mescla de tons e cores primárias surge agora uma percepção mais clara e intensa das coisas.
Estar assim tem tanto de bom como de doloroso, mas penso que a dor é boa conselheira e nos previne de nos magoarmos demais ou voltar a repetir erros passados.
Se não aceitarmos a dor como uma parte integrante do amor, nunca o viveremos completamente, ficamos incompletos.
D.M.
sábado, novembro 24, 2007
Quente-frio
Entre nós existe luz, quente e aconchegante como se o amor pudesse assumir forma. Cola-nos os corações dispostos quando estamos juntos. Envolve-nos como nosso cobertor mais quentinho, protege-nos num casulo e deixa-nos descansar.
Entre nós dois existe luz, fria e distante que nos lembra que apesar de partilharmos o espaço, estamos em universos distintos. Arrefece-nos o espírito e como o frio cortante dos polos, faz-nos adormecer e desistir de lutar. Nesta luz, descansar é morrer, baixar os braços e deixar que o frio domine.
Quero só a luz quente, dou-nos calor do meu peito e aguardo nele a tua morada.
D.M.
Subscrever:
Mensagens (Atom)